Wednesday 7 September 2011

militância e ativismo 5/6

PARTE 5/6
Militância e Ativismo
Felipe Corrêa


O carnaval político e a destruição da mercadoria

O caráter festivo do dito carnaval político e o fetiche pela destruição da mercadoria também são coisas a se criticar. Esse principio ativista de “transformar a política numa festa” joga o anarquismo no descrédito frente aos movimentos populares, desrespeita as pessoas sem moradia, escola, trabalho, comida, etc. que não tem nada para comemorar. Transformar a luta em festa o Estado faz a cada dois anos durante as eleições, “a grande festa da democracia” e uma vez ao ano no 1º de Maio, que aliás dizíamos antes que era luta e não festa não é?

Já em relação ao simplório ato de destruição da mercadoria, acreditamos que ele não seja nem um pouco louvável, uma vez que isso não nos traz beneficio algum por ser bem diferente da expropriação (onde tomamos de volta o que é nosso por direito enquanto produtores alienados do fruto de nosso trabalho) e, ao contrário do que se pensa não dá prejuízo a ninguém (a não ser a nós mesmos), simplesmente porque todos ganham: o proprietário que recebe o seguro, a seguradora que foi paga para isso e principalmente a mídia burguesa que se farta junto à população desinformada com cenas de “vandalismo sem sentido”. Estas explosões de raiva periódicas parecem uma espécie de dia da desforra, onde ativistas que nada fazem no dia-a-dia, exceto talvez acessar a internet, despejam sua raiva acumulada. O ato se converte numa espécie de catarse coletiva, depois da qual cada um volta ao seu cotidiano, onde a militância raramente está presente. De tempos em tempos uma nova catarse se segue, cada qual se alivia, sente que fez sua parte e que o culpado mesmo é o povo que só olhou e ficou parado. Que pensamentos reconfortantes podem ocorrer nas cabecinhas ocas dos ativistas...

Será que a população que vê tudo bem distante, pela televisão, entende o porquê de o banco, onde está o seu dinheiro conquistado com muito esforço, estar sendo apedrejado? Fica meio difícil explicar que focinho de porco não é tomada quando se está distante dos movimentos sociais organizados que agregam uma boa parte da população e que muitas vezes têm o respeito e o apoio da parte ainda não organizada. Além do mais, destruir a mercadoria sempre foi uma tática da burguesia para regular a economia capitalista segundo seus critérios, com a diferença de que ela sabe exatamente o que está fazendo.

A aceitação do uso da violência e de práticas “ilícitas” por parte dos movimentos sociais sempre foi um ponto delicado de se tocar, principalmente num momento como este, em que a ideologia oficial da burguesia assume um caráter pacifista de combate hipócrita à violência e que é reproduzida pela maioria esmagadora da sociedade. Não que nós sejamos contra o uso da violência, muito pelo contrário, ela é necessária, mas deve ser introduzida nas lutas populares de maneira estrategicamente pensada, do contrário só servirá para nos deturpar e prejudicar como freqüentemente vem sendo feito.

Alguns, argumentando em favor da destruição sem sentido da mercadoria, ainda dizem que ela é justificável porque o coração do capitalismo, ou “sociedade espetacular” segundo seus termos, é feito de vitrines que apresentam a mercadoria deificada. Bom, se esse fosse mesmo o coração do sistema, então estaríamos no século XVI e provavelmente o chamaríamos de mercantilismo.

CORREA, FELIPE. Militância e anarquismo. Boletim Combate Anarquista, n. 37 e 38, julho/agosto. 2004. Disponível em http://www.anarkismo.net/article/19915 [download] – 07/09/2011.


BANKSY

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