Wednesday 1 January 2014

Em defesa dos Filmes Invisíveis

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Em defesa dos Filmes Invisíveis

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"A caverna dos sonhos esquecidos", de W. Herzog: "um aprofundamento do diretor em sua investigação sobre singularidade do humano e suas relações com natureza selvagem"
“A caverna dos sonhos esquecidos”, de Herzog: “um aprofundamento do diretor em sua investigação sobre singularidade do humano e suas relações com natureza selvagem”
Algumas das obras cinematográficas mais interessantes e enriquecedoras de 2013 foram vistas por muito pouca gente. Veja algumas delas
Por José Geraldo Couto, no Blog do IMS
Foi um bom ano para o cinema? Antes de responder a essa pergunta seria preciso fazer outra: bom para quem? O cinema brasileiro, por exemplo, teve um faturamento recorde: as produções nacionais renderam na bilheteria R$ 270 milhões, contra R$ 157 milhões em 2012.
Mas calma lá. Dos 120 longas-metragens lançados, apenas oito – seis deles comédias imbecilizantes da Globo – ultrapassaram um milhão de ingressos vendidos. A imensa maioria dos títulos não chegou a cinco mil espectadores.
Falando como crítico, como cinéfilo e como cidadão, o que mais me angustia é constatar que algumas das realizações cinematográficas mais interessantes e enriquecedoras exibidas comercialmente em 2013 foram vistas por muito pouca gente.
Assim, em vez de fazer a habitual retrospectiva ou lista dos melhores do ano, destaco aqui alguns desses “filmes invisíveis”, na esperança de que eles venham a ter mais testemunhas, digo, espectadores numa eventual segunda chance, ou então em DVD, internet, o que for.
O melhor trabalho dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani em décadas mostra a encenação da tragédia Júlio César, de Shakespeare, por prisioneiros do cárcere de segurança máxima de Rebibbia, em Roma. Misturando documentário e ficção, neorrealismo e teatro elisabetano, dialetos regionais e dicção shakespeariana, essa obra-prima confere grandeza épica a pobres diabos condenados por assassinato e tráfico, e ao mesmo tempo infunde uma pulsante humanidade nos personagens históricos.
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O longa de estreia de Caetado Gotardo, do grupo paulista Cinema do Caixote, é uma tragédia em três atos que investiga o “lado B” de situações abordadas cotidianamente de modo sensacionalista pela mídia: pedofilia, roubo de bebês, crianças mortas por acidente. O que interessa aqui é a “dor que não sai no jornal”, o indivíduo que não cabe nas classificações redutoras e apaziguadoras, do mesmo modo que a encenação de Gotardo não cabe nos limites do realismo tradicional, elevando-se ao páthos da música. Um filme que alarga as possibilidades do cinema e amplia a sensibilidade de quem o vê.
O documentário em 3-D de Werner Herzog sobre as pinturas rupestres da caverna de Chauvet, na França, datadas de 32 mil anos atrás, é literalmente um aprofundamento do diretor em sua investigação sobre a singularidade do humano e suas relações com a natureza selvagem, tema que unifica toda a sua obra. Uma viagem no tempo, no espaço e na imaginação, conduzida por um dos grandes cineastas de nossa época.
Para não dizerem que não falei do cinema americano, destaco o filme do veterano William Friedkin, um vigoroso e insolente drama policial ambientado nas franjas pobres e podres da sociedade ianque. Mais negro do que propriamente noir, é o retrato de uma família e uma sociedade disfuncionais, em que todos querem passar a perna em todos até a chegada de uma espécie de anjo exterminador, o Killer Joe do título. De quebra, um erotismo adulto e perverso como não se costuma ver na produção comercial hollywoodiana.
Não é uma lista dos melhores do ano e deixou deliberadamente de fora filmaços que tiveram ampla visibilidade, como O som ao redorAmor, Django livre Azul é a cor mais quente, para ficar em poucos exemplos. É, mais propriamente, uma lista afetiva, ofertada aqui como presente de fim de ano para quem ama o cinema e se lixa para as bilheterias. Que em 2014 biscoitos finos como esses encontrem quem saiba apreciá-los.

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